Preconceito impede a representatividade das pessoas com deficiência na moda
“Não é concebível uma pessoa sentir dor para se vestir ou passar o dia todo sentindo desconfortos com a roupa que veste”, afirma Silvana Louro, fundadora da Equal Moda Inclusiva. “Roupa é sinônimo de socialização e autoestima. Ter toda ou alguma independência faz muita diferença na vida da pessoa com deficiência”, diz a estilista.
Silvana começou criando roupas para paratletas, em 2015, quando desenvolveu o primeiro uniforme adaptado. Já nessa época, percebeu que esse grupo enfrentava muitas dificuldades para vestir peças convencionais. Seus modelos atendem diferentes tipos de necessidades e têm etiquetas em Braille.
Atualmente, vende suas peças na plataforma Parceiro Magalu, criada durante a pandemia de covid-19 para ajudar lojistas analógicos que precisaram fechar as portas e perderam clientes. “Muitos acabaram fazendo uma transformação digital em seus negócios depois de aderir ao Parceiro”, comenta Flávia Marcon, gerente de marketplace do Magalu.
“Qualquer pessoa pode usar a plataforma para vender produtos pela internet para mais de 20 milhões de clientes e usufruir de toda estrutura logística da companhia”, explica a gerente. “Queremos mais mulheres empreendendo com ajuda da tecnologia, mantendo seus negócios, ou encorajadas a começar um sonho”, destaca Flávia Marcon.
Silvana Louro usa materiais específicos em suas confecções para manter o conforto dos usuários. “Nós optamos pela malha de excelência para que as zonas de pressão sejam minimizadas, começando pelo tecido”, esclarece. “Atenção aos aviamentos, que precisam de qualidade. Os zíperes, dependendo da maneira como serão manuseados, podem romper ou quebrar. Os ímãs, que substituem botões e etiquetas em braille, não estão disponíveis facilmente”, ressalta a estilista.
O conceito de Silvana Louro alisa as necessidades das pessoas com deficiência à beleza, ao alinhamento, à sofisticação, ao bom gosto dos produtos e à funcionalidade.
“É necessário desvincular a pessoa com deficiência dos medicamentos e artigos hospitalares. Ela é vaidosa, trabalha, estuda, tem filhos e uma vida amorosa ativa. É consumidora de roupas e produtos de beleza como qualquer outra pessoa”, afirma a estilista.
#blogVencerLimites – A pouca representatividade das pessoas com deficiência na moda, na alta costura, até mesmo entre estilistas e profissionais do setor, impede o avanço dessa proposta no mercado em geral?
Silvana Louro – Os impeditivos mercadológicos são históricos, sociais e políticos. Na minha opinião, o preconceito velado é o responsável. Ele existe e as próprias pessoas ainda não se conscientizaram dele. Ele está em todos os ambientes. A moda é um importante canal de comunicação e identidade, e tem o dever social de fundamentar e fortalecer esse segmento.
#blogVencerLimites – Empreender no universo das pessoas com deficiência é mais difícil? Ou empreender é duro em qualquer setor? Quais são os obstáculos do empreendedorismo na diversidade?
Silvana Louro – Vejo o empreendedor como um apaixonado. Quem não sabe sua missão não consegue empreender. O universo da pessoa com deficiência tem suas especificidades como qualquer outro. Se você vai empreender no segmento de moda praia, por exemplo, vai ter de ir à praia, interagir com as pessoas que serão seus consumidores, entender suas necessidades e ouvir muito sobre seus estilos e rotinas de vida. Então, é assim também quando você vai atuar no universo da pessoa com deficiência. Costumo dizer que não sei nada. Aprendi a ouvir e aprendo todo dia. Não tem diferença dos outros segmentos. Sou otimista com os pés no chão e vejo meu trabalho como uma ferramenta de inclusão. O meu desafio é mostrar para as pessoas que as roupas adaptadas existem e que são lindas. No mais, o mercado está aí, são milhões de pessoas com deficiência no Brasil.
Fonte: Estadão