Nova tendência da moda: Roupas recicláveis

Sustentabilidade na indústria da moda estava no foco de apenas de uma parcela de designers, como Stella McCartney e empresas de produtos para atividades ao ar livre como a Patagonia.

Mas as marcas tradicionais e novas estão tentando melhorar a cadeia de suprimentos que é muito criticada por contribuir para geração de aterros e outras formas de poluição no processo de produção.

Da colaboração na criação de biofibras à fabricação de selos ecologicamente corretos, algumas empresas no setor de vestuário estão trabalhando com startups de tecnologia para limpar os armários do mundo.

O maior problema está no volume de roupas descartadas nos aterros. De acordo com a fundação Ellen MacArthur, que tabalha para promover a sustentabilidade, a produção global de roupas dobrou de 2000 a 2015. No mesmo período, o número de vezes que uma roupa foi usada caiu para 36%. Ao todo, “o equivalente a um caminhão de lixo cheio de roupas é queimado ou despejado em aterros a cada segundo”, constatou o relatório.

Praticamente no mesmo período, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, 60% a mais de roupas foram compradas, mas os consumidores as mantiveram por metade do tempo.

AUMENTAR A SUSTENTABILIDADE
Algumas companhias, como H&M, estão tentando melhorar sua própria sustentabilidade enquanto encorajam os consumidores a manter as roupas longe do lixo. Na loja principal da H&M em Estocolmo, por exemplo, consumidores podem pagar o preço de custo para ter uma roupa em desuso transformada em nova através do processo que desfaz a fibra antiga e transforma em nova.

O processo de oito etapas é projetado para marcar um ponto, não um lucro. “Queremos engajar nossos consumidores e fazê-los entender que suas próprias roupas têm valor”, afirma Pascal Brun, chefe de sustentabilidade da H&M.

Mas a reciclagem mecânica tradicional de uso mais amplo tem seus limites. “Por mais brilhante que seja a indústria da moda por fora, a cadeia de suprimentos frequentemente depende de equipamentos do século XIX,” afirma Stacy Flynn, fundador da startup sediada em Chicado, a Evrnu. Empresas como a Flynn buscam reduzir suas fibras aos seus componentes químicos básicos e reconstruí-los com menos impacto para o meio ambiente.

CONVERTER TECIDOS
O primeiro produto da Evrnu, que Flynn afirma esperar que se torne comercialmente disponível esse ano, converte o tecido de algodão para liocel, uma fibra de celulose que atualmente é feita apenas de madeira.

O processo, chamado NuCycl, atualizará a etapa inicial de reciclagem de classificação e trituração do tecido adicionando uma câmera que pode identificar com mais precisão a composição do tecido. Os acabamentos, o conteúdo da etiqueta ou mesmo a linha utilizada podem reduzir a quantidade de algodão em 20%.

“É como a diferença entre cozinhar e assar – você pode ser mais relapso com os ingredientes quando cozinha, mas ao assar, você tem que ser preciso,” afirma Flynn. “É da mesma forma com a reciclagem de químicos – se você sabe o que tem, pode otimizar o processo”.

O coração da tecnologia está na próxima etapa, na fábrica de celulose, onde o tecido desfiado é dissolvido e transformado em celulose. Essa celulose se torna um papel grosso, que é enviado para a próxima parte da cadeia de suprimentos, os produtores de fibras. Lá ele é repolimerizado para fazer o liocel.

“ALGO NOVO”
Evrnu tem parceria com várias marcas, incluindo Adidas e McCartney, para usarem a fibra reciclada nos seus tecidos. “Quando o consumidor perde o interesse ou a marca está com o estoque preso, essas roupas podem todas voltar para o sistema, ser repolimerizada e transformada em algo novo,” afirma Flynn.

Outra área de interesse envolve novas fibras e materiais relacionados a produtos que são encontrados na natureza, mas não derivados de animais.

Várias empresas, por exemplo, estão desenvolvendo alternativas para o couro, já que as peles são particularmente problemáticas, desde o metano que as vacas produzem até os métodos de curtimento que envolve químicos tóxicos como o cromo. Couro vegano, apesar de seu nome ecologicamente correto, não é melhor porque utiliza plástico, afirma Theanne Schiros, cientista de materiais e professor assistente no Instituto Fashion de Tecnologia de Nova York.

Uma alternativa é o couro de cogumelos, que depende de micélio, ou raízes de cogumelos, para produção de uma alternativa livre de animais. O micélio tem sido usado por milhares de anos de diferentes formas, disse Schiros, até mesmo para curar feridas, mas empresários e designers estão mais ambiciosos.

COURO DE COGUMELOS
Além das Bolt Threads, fabricante de fibras e materiais que ganhou destaque no outono passado quando anunciou seu produto e a colaboração com vários designers, outras empresas, como MycoWorks, estão desenvolvendo “couro” a partir de micélio.

O Chefe Executivo da MycoWorks, Matthew Scullin, afirmou que enquanto a empresa explorava o uso em estofamento automotivo, a ênfase atual estava em calçados e vestuário.

Schiros é parte de uma equipe da Universidade de Columbia trabalhando em alternativas de bioleather, o último protótipo, ela diz, é “um tênis com tingimento natural feito a partir de microorganismos que é parte da iniciativa da Slow Factory’s One x One, referindo-se à organização sem fins lucrativos que trabalha com sustentabilidade e questões climáticas.

A pandemia forçou o trabalho remoto invés do laboratório, mas ela encontrou uma solução alternativa inteligente.

Ela usa seu jardim para testar o quão bem o bioleather, que foi tratado com sua tecnologia de curtimento à base de plantas, iria se decompor – nesse caso, decomposição é uma boa coisa. Após enterrar a amostra, ela testou a massa do material, assim como o pH e os nutrientes do solo por 60 dias.

VISIVELMENTE DETERIORADO
O seu experimento em casa, ela afirma, descobriu que após 7 dias, “as amostras tinham deteriorado visivelmente, estavam menores e tinham perdido 70% da sua massa”.

Ela também é co-fundadora e cientista chefe do Werewool, que está desenvolvendo uma fibra alternativa de lã. Lançada por três de seus antigos alunos do FIT, a empresa busca criar fibra biodegradável com base no DNA das proteínas que já existem na natureza.

Schiros trabalhou também no fio a base de algas, que também começou na escola, que é parte da Universidade Estadual de Nova York. A pesquisa foi feita em colaboração com Columbia, onde Schiros é pesquisadora.

Empresas esperam fornecer soluções “cradle to cradle” – o termo usado para o processo que tem intenção de manter os materiais em uma economia circular, atentos ao estado final dos materiais no início do processo de design. Essa é a ideia por trás do Thousand Fell, um produtor de sapatos que usa materiais reciclados, afirma a co-fundadora da empresa Chloe Songer.

UM POUCO EM VÃO
Thousand Fell também quer facilitar para consumidores reciclarem seus sapatos. “Você pode fazer um grande design e produção, mas se você não estiver preparado para coletar os produtos, é um pouco em vão, afirma Stuart Ahlum, co-fundador da empresa. Com esse fim, em novembro, a Thousan Fell se juntou com a UPS para oferecer ao consumidor uma forma facilitada de reciclar seus sapatos usados.

Em última análise, esses desenvolvimentos irão transformar o mundo da moda contanto que os consumidores comprem. A aparência e o toque – assim como o preço – precisam funcionar. “Se pudéssemos produzir um sapato por $400, mas ninguém o comprasse, isso iria contra o propósito”, afirma Ahlum.

Além disso, ser amigo do meio ambiente não é o suficiente. Como disse Scullin, do MycoWorks: “Existe uma expectativa pairando por aí de que os consumidores estão disposto a sacrificar qualidade por sustentabilidade. Mas eles não estão”.

Fonte: Arkansas Online

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