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Moda sustentável: cientista desenvolve tecido a partir de algas

Por enquanto, projeto esbarra na questão do custo – fabricar uma camiseta com cânhamo e algas custa cerca de US$ 110

A indústria da moda produz anualmente mais de 100 bilhões de peças de vestuário, cerca de 14 para cada pessoa na Terra. A maioria acaba em aterros sanitários ou em rios e praias de países em desenvolvimento. Apenas uma pequena fração dos tecidos é reciclada. A moda é responsável por até 10% das emissões de dióxido de carbono feitas por humanos – mais do que as viagens aéreas internacionais e o transporte marítimo juntos.

Assim, em 2018, McCurdy começou a projetar uma capa de chuva feita de macroalgas marinhas, que absorvem carbono em vez de emitir. A escolha da peça de vestuário foi uma alfinetada deliberada sobre o que usamos para nos proteger contra um clima que está se ficando descontrolado por causa da atividade humana.

A peça translúcida foi exposta no Cooper Hewitt Smithsonian Design Museum de Nova York em 2019. McCurdy também se uniu ao estilista Phillip Lim, de Nova York, para fazer um vestido coberto de lantejoulas verdes, fabricadas com o mesmo material.

“O que estou tentando enfatizar é que não importa apenas para onde vão, mas de onde vêm – 60% das roupas são provenientes de combustíveis fósseis”, diz ela. “Então eu fiz muitos experimentos, reuni muitas tecnologias e fracassei centenas de vezes antes de conseguir criar este plástico claro, muito consistente, totalmente livre de materiais sintéticos e produtos químicos e feito 100% de algas”.

McCurdy não está vendendo suas criações; sua principal motivação é mostrar que, com imaginação, é possível fazer pela moda o que a eletrificação está fazendo pelos automóveis. Do cânhamo ao fungo, do eucalipto ao bambu, um número cada vez maior de startups busca exatamente esse tipo de solução na natureza. E eles estão sendo notadas por varejistas globais como a H&M, que deseja fabricar todos os seus produtos a partir de materiais reciclados ou de fontes sustentáveis até 2030.

Já utilizadas em biocombustíveis e bioplásticos, as algas estão atraindo atenção especial por seu cultivo rápido e barato, que não demanda muita água e retira o dióxido de carbono do ar. Organismos aquáticos que fazem fotossíntese produzem cerca de 70% do oxigênio em nossa atmosfera, mais do que todas as florestas juntas. Isso significa que as algas não são apenas menos nocivas para o clima, elas possivelmente são benéficas.

Renana Krebs fundou a Algaeing em 2016, dois anos depois de ter abandonado uma carreira na área da moda. Trabalhando com seu pai, um engenheiro de biocombustíveis, Krebs desenvolveu uma alternativa feita de algas para os corantes químicos e derivados de petróleo onipresentes na indústria de vestuário.

Após um início lento, o interesse por corantes e tintas à base de algas explodiu no ano passado. A startup israelense está trabalhando incessantemente para enviar as primeiras encomendas de fabricantes de loungewear, roupas esportivas e tecidos domésticos. Ela também está desenvolvendo fios feitos de algas, os quais espera começar a fabricar comercialmente no próximo ano. Krebs não quis dar nome a seus clientes, mas afirmou que marcas de consumo global estão entre eles.

“Quando começamos em 2016, era algo ‘bom de se ter’, mas agora temos alta demanda e uma longa lista de espera”, diz Krebs. “Eles literalmente dizem ‘mande o que tiver’”.

O aumento da demanda é impulsionado pelas realidades econômicas. Os consumidores mais jovens estão mais conscientes com o meio ambiente do que nunca, e isso está mudando os hábitos de consumo. O mercado de brechós e segunda mão está crescendo mais rapidamente em todo o mundo do que o mercado de vestuário em geral. E o aumento dos investimentos em ESG está pressionando os fabricantes e varejistas a melhorarem seus processos. Até agora, a Algaeing levantou cerca de US$ 5 milhões de seus investidores. Krebs tem o objetivo de garantir US$ 15 milhões em outra rodada de financiamento no início do próximo ano para aumentar a escala. A ideia é vender uma gama de corantes, tintas e fios compatíveis com o equipamento de fabricação existente.

“Nossos parceiros não precisam mudar o maquinário, mas no final não estão prejudicando o meio ambiente”, diz Krebs. “Eles usam menos água, menos energia, menos transporte e ainda menos gozam de menos tempo de espera. Leva cerca de 180 dias para cultivar algodão; as algas são cultivadas em apenas três semanas”. As algas da Algaeing são cultivadas verticalmente num sistema de circuito fechado alimentado por energia solar no sul de Israel, em terras que não podem ser utilizadas para a agricultura convencional. As algas precisam de 80% menos água que o algodão, e não são necessários pesticidas no cultivo. Além disso, o processo evita os produtos químicos usados para processar os fios ou fazer corantes comerciais.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente diz que são necessários cerca de 9 mil litros de água para fazer um par de calças jeans. Apenas o tingimento de tecidos é o segundo maior poluidor de água no mundo. E em contraste com o poliéster, que não se decompõe e acaba na cadeia alimentar como microplástico, os produtos de Algaeing são biodegradáveis e não tóxicos. Ofer Gomeh, CEO da Capital Nature, um fundo de capital de risco de Tel Aviv que investiu na Algaeing, diz que sua motivação é puramente econômica: “o setor de vestuário sustentável irá crescer”.

A startup britânica Vollebak, faz o design de roupas para um futuro mais sustentável. Fundada em 2015 por irmãos gêmeos que são corredores e designers criativos, ela vende camisetas feitas de cânhamo e tingidas por algas, podendo ser compostadas, decompondo-se em semanas. A Vollebak fez experimentos com materiais que incluem partículas de cerâmica e a fibra de carbono encontrada nos motores a jato para criar sua gama de vestuário de alto desempenho para um clima mais extremo. Entre seus investidores estão o cofundador da Airbnb (ABNB) Joe Gebbia e Sean Brecker, o diretor financeiro da Headspace Health.

“Outros setores estão sempre criando o futuro, mas não acredito que outras empresas estejam construindo o futuro do vestuário”, diz o cofundador e CEO Steve Tidball. “Nós observamos qual é a menor quantidade de energia que você pode usar no início do processo e a menor quantidade de energia necessária para se livrar do vestuário”.

O maior desafio da moda feita com algas não é a praticidade, a qualidade ou mesmo a sensação; é o custo. Fazer a camiseta de cânhamo e algas custa cerca de US$ 110, diz o Tidball. A Vollebak vende deliberadamente para celebridades para ajudar com a propaganda e há aquele segmento crescente de consumidores que gastam mais em roupas sustentáveis. Mas ainda é “muito caro” para o mercado de massa, diz ele. McCurdy não está tão preocupado com os custos.

As fibras sintéticas são artificialmente baratas porque são um coproduto do petróleo – abundante e usado em tudo, do plástico à energia. Essa vantagem se dissipará à medida que o mundo transitar para uma energia mais limpa. E qualquer nova tecnologia – como painéis solares, copos biodegradáveis, carros elétricos – é cara até atingir a escala. O truque é construir essa demanda.

Para McCurdy, isso significa tornar a moda sustentável desejável, não apenas ética. Esse é o objetivo de suas peças únicas e é o que a Vollebak está tentando alcançar com seu foco em vestuário futurista.

“Parte da minha visão seria algo como o Tesla da moda”, diz McCurdy. “Fazer com que as pessoas queiram a coisa mais sustentável – mesmo que pelo motivo errado”.

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