As mulheres no poder e a valorização da moda cearense

Em um ambiente político em cada vez mais mulheres conquistam espaço, falar da moda é parte intrínseca. Bem sabemos que a cobrança em relação à indumentária feminina em eventos políticos é incomparável à masculina. Homens estão geralmente em seus ternos que, se muito, mudam de cor, num espectro reduzido. Vale lembrar que a moda é também um espaço de luta – as mulheres que o digam.

Muito se falou nos últimos dias sobre o look usado pela primeira-dama, Janja Silva, na posse do presidente Lula (PT). A socióloga inovou ao optar por um blazer com colete e calça em vez dos tradicionais vestidos abaixo dos joelhos. E não só por isso, os trajes da primeira-dama marcam a valorização da moda e do artesanato nacional.

No Ceará, a posse do governador Elmano de Freitas (PT) e da vice, Jade Romero (MDB), marcou também a nomeação do primeiro secretariado com equidade de gênero no Estado. Pela primeira vez na história, temos a fotografia de um palanque no qual não são os ternos pretos, cinzas e azuis que predominam.

Nesse cenário, é impossível não citarmos um figura cujo trabalho tem sido presença constante nos espaços de poder do Estado: a mestra das rendas Almerinda Maria.

Na cerimônia de posse no Ceará, muitas mulheres usaram a renda renascença e o bordado richelieu, marcas do artesanato cearense e do trabalho de Almerinda. Entre elas, estão a primeira-dama, Lia Freitas, a secretária de Proteção Social e ex-primeira-dama, Onélia Santana, a secretária da Saúde, Tânia Mara.

Ela também já vestiu a ex-governadora Izolda Cela e o ex-governador e hoje ministro da Educação, Camilo Santana.

Para Almerinda, que atua há mais de três décadas na moda no Ceará, ser parte da história de mulheres que atuam nos diferentes poderes no Ceará “é uma honra”.

Estilista

Como essa chegada das mulheres ao poder se relaciona com a moda? Como o que elas vestem se torna parte de uma estratégia de comunicação? Para responder a essas perguntas, recorri a um especialista, o professor de História da Indumentária e da Moda, Ricardo Andrés Bessa.

Deixo com vocês a análise dele:

“Somos o que vestimos, e moda pode trazer muitos significados e mensagens. Desde a antiguidade, a moda tem servido para demonstrar, além da estratificação social, poder. Quando vestimos determinado estilo e prestigiamos algum designer de uma região, implicitamente estamos apoiando e valorizando a moda de um tempo e lugar. 

No caso da posse do governador Elmano de Freitas, várias mulheres estavam passando uma mensagem que, de longe, seria implícita: explicitamente, elas estão homenageando criadores cearenses e artesanias como o bordado richelieu e a renda renascença. 

Como figuras públicas, o que elas vestem querem dizer que além de uma homenagem à moda cearense, valorizando criadores e artesãos locais, e fazendo uma reflexão que não precisamos ir à Paris para nos vestirmos bem, convidando a conhecermos o trabalho de Almerinda Maria, Camila Arraes (Rendá), Jardel Moura e Ivanildo Nunes, entre outros”.

FONTE

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