Cânhamo conquista moda

Apontada como uma fibra sustentável e passível de rivalizar com o algodão, o cânhamo está a ganhar adeptos na indústria da moda, sobretudo no denim. A mais recente prova disso é a expansão da parceria entre a Kontoor Brands, que detém a Wrangler e a Lee, e a Panda Biotech.

A especialista em denim e a produtora de fibra de cânhamo revelaram que estão a trabalhar para trazer rastreabilidade e escala à produção e processamento de cânhamo para têxteis nos EUA.

“O cânhamo sustentável cria um complemento perfeito ao algodão. Estamos entusiasmados pela oportunidade de avançar com a utilização de cânhamo amigo do ambiente na indústria do denim para criar vestuário eco-consciente de elevada qualidade”, revela Dhruv Agarwal, diretor-sénior de inovação de matérias-primas e desenvolvimento de produto da Kontoor Brands. “O nosso trabalho com a Panda Biotech tem estado focado em produzir cânhamo verdadeiramente sustentável, desbloqueando mais uma cultura de fibra comercializável para os agricultores americanos e dando acesso, aos consumidores, a vestuário mais sustentável”, explica.

Os preços do cânhamo são 1,5 a 10 vezes mais elevados que os do algodão, pelo que não é ainda competitivo face ao chamado “ouro branco”, mas as comparações em termos ambientais favorecem o primeiro no cultivo. O cânhamo industrial é uma cultura regenerativa devido à sua capacidade de crescer com pouca água, poucos ou nenhuns pesticidas e herbicidas, elevada produção de fibra por hectare e absorção de mais dióxido de carbono por hectare do que qualquer outra cultura comercial ou florestal. No entanto, o processo de converter cânhamo em fibra têxtil é muito poluente, exigindo processos químicos para separar a fibra do centro amadeirado, segundo Geoff Whaling, presidente da US National Hemp Association, citado pelo Sourcing Journal.

Atualmente, a China é a maior produtora da fibra e de têxteis fabricados com cânhamo, mas, afirma Whaling, “há um interesse crescente em incorporar cânhamo cultivado na América nos têxteis”.

Interesse multiplica-se

A nova coleção Bast Recast da Lenzing tem uma mistura de liocel com cânhamo. “O interesse no cânhamo é como um novo começo na área do vestuário”, garante Michael Kininmonth, project manager na Lenzing. “Para prestar homenagem à história do cânhamo, juntamos um grupo de empresas que sabíamos poderem oferecer tanto qualidade como inovação e integridade ambiental que os projetos de denim sustentável exigem”, adianta.

A gama inclui fibras e fios de cânhamo convencionais e com aspeto de algodão com certificação GOTS fornecidos pela Kingdom, uma das maiores produtoras mundiais de fio de linho e de cânhamo. Os tecidos foram desenvolvidos pela Naveena Denim, no Paquistão, e a Endrime, uma empresa britânica, desenhou e produziu a coleção, usando a história do cânhamo como inspiração. A portuguesa Crafil está igualmente envolvida, tendo fornecido as linhas de costura biodegradáveis Celofil, 100% liocel.

“O interesse no cânhamo evoluiu nas últimas estações, com marcas e fábricas a procurarem misturas de fibras de baixo impacto e escaláveis”, elucida Tricia Carey, diretora de desenvolvimento de negócio de denim na Lenzing.

O cânhamo tornou-se, por isso, uma fibra comumente citada pela indústria. A Levi’s expandiu esta primavera a utilização de cânhamo, que introduziu em 2019, e marcas de denim como a AG e a Weekday estão igualmente a apresentar jeans com esta fibra.

Explosão nos EUA

Mas a parceria da Kontoor e da Panda Biotech quer ir mais longe e apostar na rastreabilidade da quinta até ao produto final. «Enquanto produtor de denim líder, com vasta experiência em trazer fibras e processos inovadores para o mercado, a Kontoor Brands tem sido uma parceira valiosa enquanto construímos a maior unidade de processamento de cânhamo industrial nos EUA para fibra têxtil de elevada qualidade para inúmeras aplicações sustentáveis na produção», reconhece Dixie Carter, presidente da Panda Biotech.

Através da colaboração com a Panda Biotech, que começou em 2019, depois da aprovação em 2018 de legislação nos EUA que permite o cultivo de cânhamo para fins industriais, a Kontoor Brands planeia colocar no mercado vestuário em denim com cânhamo cultivado e processado nos EUA até 2023.

De acordo com o Sourcing Journal, pode demorar cinco a 10 anos até a indústria do cânhamo alcançar a quota do poliéster, o segundo, a seguir ao algodão, no mercado das fibras, embora os observadores da indústria salientem que a afinidade natural do cânhamo para fazer misturas com o algodão deverá trazer benefícios a ambas as fibras.

FONTE: PORTUGAL TÊXTIL

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